9 de fev. de 2009

Poesia da Semana

Uma arte

Elizabeth Bishop
Tradução de Horácio Costa

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia.
Aceita o susto de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias ir.
Nenhuma perda trará desastre.
Perdi o relógio de minha mãe.

A última,ou a penúltima, de minhas casas queridas foi-se.
Não tarda aprender, a arte de perder.
Perdi duas cidades, eram deliciosas.

E,pior, alguns reinos que tive, dois rios, um continente.
Sinto sua falta, nenhum desastre.
- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um enteamado), mentir não posso.
É evidente:a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre.

Um comentário:

  1. É claro que este texto seria comentado. Afinal, foi repassado como uma reação em cadeia entre alguns leitores deste Blog.
    O que dizer? É uma verdade, sou a prova disso...
    "A arte de perder não tarda aprender"

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