7 de fev. de 2009

Um pequeno drama

Bem, contarei com a paciência de um monge sobre o abismo no qual acabava de me jogar foi numa segunda-feira dessas que a ressaca te manda de novo pra cama e um café sempre vai bem estava saindo pro trabalho quando o telefone tocou corri ate a cozinha (sim um telefone na cozinha é perfeitamente discutível) e ao atender o silêncio tomou conta de mim ninguém falou nenhuma respiração, nenhuma ameaça, nenhum sinal de vida do outro lado da linha algo errado estava acontecendo e aquela já não era a primeira vez e de repente me senti só e já não queria mais trabalhar e acabei ligando para repartição que não iria mesmo estava cansado a ressaca estava me matando com aquela dor de cabeça e o telefone tocou mais três vezes e ninguém falou fiquei com muito medo o que eu tinha feito de errado era uma ameaça velada era isso que estava acontecendo só porque falei mal do partido só podia ser isso e então fui fazer um outro café (já era o segundo que tomava) me sentei no sofá liguei a TV nada interessante para variar peguei o jornal mas não estava com vontade de ler sei lá que dia chato e o telefone tocou de novo não me movi deixei tocando por mais de dez minutos aquilo já estava me enlouquecendo o que faço meu deus e finalmente resolvi sair de casa com um boné enterrado na cabeça e óculos escuros para o pessoal do trabalho não me reconhecer e quando estava atravessando a rua alguém buzinou na outra esquina mas não consegui ver quem era devia ser um idiota da minha família maluca naquele carro amarelo fui ao supermercado e meu celular começou a tocar ai meu deus um número privado me ligando eu não merecia aquilo por favor e vi que a carne estava muito cara mas espera aí eu não como carne o que estou fazendo aqui nem estou com fome e sai pela rua já estava tonto de tanto andar e aquele calor me matando o telefone começou a tocar de novo e acabei jogando o celular no chão pois estava com muita raiva e as pessoas me olhavam você esta bem não tudo certo quer dizer caiu das minhas mãos só isso não precisa pode deixar vou comprar outro deixa pra la e então de um telefone já estava livre ai que bom meu deus cheguei em casa e o telefone residencial começou a tocar e eu atendi alo oi meu querido como você esta era minha mãe ah como pude esquecer hoje era aniversário dela caramba depois que falei com ela ate fiquei mais calmo e fui tentar dormir ainda era cedo da tarde não tinha nem almoçado queria tanto conversar com alguém mais não tinha ninguém confiável que acreditaria nessa historia toda dos telefonemas estou sendo perseguido você acredita e a Dora minha amiga soltou uma gargalhada que me deixou vermelho e disse que não era nada e eu não deveria ter contado pra ninguém como sou burro sabia que ninguém iria acreditar e minha mãe já estava dizendo que eu estava imaginando coisas e depois minha tia meu padrasto minha irmã meu sobrinho meu deus agora todo mundo achava que eu era o mais novo louco da família e o telefone tocava sem parar mas agora com todo mundo ligando pra saber se eu estava bem precisando de alguma coisa é claro que preciso mas é de sossego pelo amor de deus e meus colegas de trabalho zombando de mim pedi demissão fiquei sem dinheiro sem telefone cortaram minha luz ai meu deus que saudade daquelas ligações que queriam só ouvir minha voz sem exigir nada e agora estou aqui há três anos conversando com você deitado nesse sofá vermelho entupido de remédios coloridos e sem ligações sem conversas sem silêncios ai que saudade do meu sossego, doutor.

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