29 de nov. de 2009

Para uma menina sem sorriso

Da experiência da morte nada sei. Muito menos da vida. Sinto apenas que não somos nada diante das circunstancias que ela nos impõe. Impor é um verbo forte, imperativo, ameaçador. A morte parece ser , ao contrário do que todos pensam, um leve vento imperceptível que te carrega nos braços e não faz barulho algum. Deve ser isso, tamanha descrença diante das notícias que recebemos e que na qual ficamos imóveis, quietos, paralisados. Nunca sabemos como agir ou reagir, e se soubéssemos, desconfiaríamos. Caio F. Abreu dizia que a morte deveria ser algo cotidiano, como atender ao telefone e a ligação cair. Mas, era Caio. Sem chance. Percebo que não há frase, livro, música, conselho, oração ou palavra que não nos faça perplexos diante do fim. The end. Finito. Talvez apenas o silêncio seja capaz de absorver o impacto. Ou não. Mas, o pior de tudo é quando você a pressente, perto, muito perto, que chega a ser palpável. Sem imaginações, por favor. Cazuza diria “eu vi a cara da morte/e ela estava viva”. Mas é Cazuza. Sem chance. É algo que te pega distraído, adormecido diante do cotidiano sobrecarregado no qual somos engolidos. E é isso. Essa passividade e impotência que nos devora e nos faz inúteis, e choramos, sentimos, amanhecemos. E nada. Absolutamente nada. Vazio. Oco. Subterfúgio no café, no estudo, no trabalho, na rotina. E nada muda. Mas, lá no fundo há uma cratera enorme, ferida incurável e que talvez não cicatrize jamais. Talvez seja um longo tempo (jamais), mas é possível. Não preciso explicitar o título desse texto, você leitor sensível, constatará uma experiência pessoal. Desejaria muito tornar esse texto mais poético, com muitas metáforas ou figuras de linguagem para impressionar você leitor. Mas, confesso: não consegui. Há uma parcela de realidade diante dos meus olhos imensa e aterrorizadora que paraliso diante do computador. Nada vejo nesse escuro que a morte deixa em todos nós. E se esse texto lhe parecer “piegas”, caro leitor, já que hoje sentir está fora de moda (sim, o importante é agir), pois então que seja. Piegas e emotivo ao ponto de suturar essas cicatrizes que vão marcando a nossa alma.

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