20 de fev. de 2010

Um pouco do que ainda resta

E seguimos assim substituindo uma dor pela outra. Talvez os girassóis nao possam amenizar as ausências e as tempestades e o capuccino não mais disfarce a explosão aqui dentro do peito. Ficou tudo  cinza e sem graça o olhar contemplando a lembrança  que insiste em aparecer nos dias de chuva. E tudo vai se perdendo gota a gota por um arrebatamento incontrolável de controlar o destino e a mão que  paralisa o tempo  e  congela imagem instantânea daqueles dias impregnados na memória e que não se soltam mais das paredes ásperas do pensamento. E seguimos assim descrentes de que a vida possa nos dar mais uma chance de felicidade e contentamento e calmaria e de que as angústias florescerão poesia. Resta a contemplação e o estado letárgico do nosso corpo diante de tanta novidade e que de repente é arrancando de seu princípio de alegria- para que não possamos transgredir a realidade por completo-  e assim ficamos desfeitos de argumentos e saudosos dos momentos fotográficos que os nossos olhos capturaram. Um vazio e mais nada. Talvez Shakespeare para salvar.



Ó ausência! A quanta dor motivo não darias,
Se em teu agro lazer por ventura  não fosses
Ocasião de entreter o tempo com alegrias
Que o tempo e o pensar dão feitas de enganos doces
E se o fazeres dois de um só não ensinasse
Que um louvando ficara o outro que se ausentasse!

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