13 de jun. de 2010

Dois cafés, por favor


Havia um silêncio incômodo entre os dois. Olhavam-se tímidos num desvio mecânico como quem reza para não ser descoberto. O café recém colhido na pequena e barulhenta máquina esfriava entre as mãos que desejavam se tocar. Um cappuccino, outro mocaccino. Sempre o mesmo pedido, no mesmo lugar, a mesma história. Talvez as palavras agora estivessem submersas sob a espuma do café ou o barulho da chuva lá fora abafasse o pensamento. Nenhum movimento, intenção ou piscar de olhos naquele instante, tudo igual como fora deixado antes, fora do lugar, despedaçado, incoerente. Apenas quando um deles necessitou de nicotina para encarar a realidade, a moldura daquele quadro mudara. O café ali ficara em frente ao outro que tentara entender aquela atitude, ser abandonado repentinamente em meio ao silêncio cortante que se instalara, e o outro lá fora mandando o mundo para um lugar bem distante a cada tragada. Há quanto tempo os lábios já não se tocavam e as mãos não se comunicavam mais. Uma distância fria e inexata corroendo aquelas vidas que não compartilhavam mais nada. 

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