23 de jun. de 2013

Breve crônica para um domingo de cansaços

Minha relação com a leitura vem de tempos remotos, mais especificamente, desde que descobri o sentido real daquele ditado popular "antes só do que mal acompanhado". Pois bem. Não, não sou a excêntrica intelectual que prefere se manter na solidão do que socializar com o resto do mundo. Se prefiro estar só? Sim, mas é uma opção minha (e você que me julga, vá para o inferno). Apenas quero dizer que a leitura em minha vida sempre se fez de modo escapista, isto é, leio para fugir (de mim?), para escapar por alguma fresta que ninguém vê, para afugentar o caos (que sempre há), para. E minha relação com a escrita não poderia ser diferente. Escrevo também para escapar (do que?), para enfrentar um mundo que não quero, para criar uma versão minha a cada dia, para. E justamente por me identificar com atividades que exigem reflexão, ouço frases pejorativas do tipo: "nossa, ela é uma intelectual", "puxa, como ela é calada", "que moça mais certinha!", "cara, ela é muito esquisita", penso: e você, que fala pelos cotovelos e nada diz? E você, que vive mergulhado na ignorância e acha que abrir um livro é coisa de gente metida a inteligente? E você, que se pensa o mais devasso dos seres, moralista ao avesso? A minha devassidão está na palavra, o meu politicamente incorreto está na tentativa ficcional, a minha indignação está na forma com que configuro o mundo, enfim. Ah, isso é viver no campo das ideias? Sim, e daí? Prefiro ser do que tentar ser e agradar, sempre. Os velhos rótulos fazendo o seu papel, o de categorizar o impossível. Não, não sou esquizofrênica e o mundo não está contra mim. Está à minha margem, a margem que criei para mim, a fim de ludibriar quem acha que pode me classificar. Meu prazer em estar com inúmeras pessoas se equipara ao meu gosto por cortar cebolas. Sou feliz com o meu silêncio e a minha solidão. Os extrovertidos que me perdoem, mas calar a boca é fundamental. Ah, virtualmente sou bem mais simpática.

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