11 de jan. de 2009

Cecília para todos


Para quem aprecia poesia e deseja fugir da letargia cultural que se instala na cidade nas férias, está na hora de percorrer as bancas à procura de “Cecília de Bolso” (L&PM Pocket. Porto Alegre: 2008. 187 pg. R$13,00) e degustar os mais aprazíveis versos escritos pela autora modernista entre 1919 e 1964. A antologia organizada por Fabrício Carpinejar traz 157 poemas, dentre eles os mais conhecidos do público como “Retrato”, “Motivo” e “Canção” (Viagem, 1939) que transbordam lirismo, melancolia e um certo saudosismo impressos à obra da autora. Uma das poetisas mais importantes da literatura brasileira do século XX , agora de forma sucinta e acessível ao bolso do leitor.
Cecília é tão primorosa em sua obra poética quanto autoras nem tão lembradas como Lila Ripoll, de Quaraí. O que quero expor é que há sempre a velha e preconceituosa idéia de que os poetas da aldeia não possuem os mesmos dotes líricos que os da metrópole. É o preço que se paga aos alimentarmos uma consciência cultural coletiva que desvaloriza (e desconhece) a cultura local e não se interessa pelas manifestações literárias (e por cultura nenhuma) de seu próprio município. Há talentos em nossa cidade e bons autores capazes de construir uma história da literatura alegretense que faça diferença nas livrarias daqui e do Estado. Mas a transformação deve partir do princípio de mudança da idéia de que “Santo de casa não faz milagre”. Há Rui Neves, Sila Silveira Bica, Alexandre Alves, João da Cunha Vargas, Olegário Victor Andrade (reconhecido na Argentina) e uma infinidade de escritores alegretenses contemporâneos com obras de qualidade.
A cidade precisa criar uma identidade cultural que fortaleça e incentive a cultura local de forma a extinguir a irritante frase “Em Alegrete não há nada!”. Pelo contrário, há sim muitas cabeças pensantes (obviamente sufocadas pela falta de senso crítico de alguns) à espera de espaço e reconhecimento de um trabalho que muitas vezes é realizado no anonimato. O que deve mudar é o pensamento, só assim o meio se transformará.

Nenhum comentário:

Postar um comentário