12 de out. de 2013

Nota (oficial) para Caderno Terapêutico #1


            Pois bem. Cá estou a beber meu chá de camomila. Dizem que faz serenizar o peito. Mentira. O peito está aqui, transbordando. Nem preciso dizer que é  um pote até aqui de. Enquanto isso,  penso em tudo que ainda não fiz. Em tudo que ainda não disse. Por isso, escrevo antes que seja tarde pra berrar alguma coisa daqui de baixo. Do subsolo. Pronto. Lá vem ela com as suas crises existenciais, regadas a cafés, cigarros e The Clash no último volume. Oh, caro leitor. Não seja bobo, nem só de realidade vive o homem, a ficção aí está para comprovar o que digo. Não me responsabilizo por você acreditar nestas linhas. Faça a sua escolha. Pílula azul ou vermelha? Vejamos.
             Tenho quase 30 anos e sou uma adolescente: assisto "Gilmore Girls", gosto de nescau  e quero  minha mãe toda vez que o mundo desaba. Conservo a mesma rebeldia, mas de modo equilibrado.  Há os que ainda me chamam de "guriazinha". E eu com um sorriso de implodir navios. A adolescência era um tempo em que eu ainda não me tinha. E agora me tenho toda confusão. E me tenho e me perco e me afundo no caos. Aquela tempestade dentro do peito - e eu não sabia como explicar: ei, tá doendo aqui dentro. Sem chance. Então, descobri a escrita. E o caos só aumentou. Mas de um modo diferente, arrebentou o peito e inundou páginas e páginas de um auto exorcismo sem piedade. Foi assim que me salvei (pura ilusão).  Escapei daquela onda enorme tentando me engolir. Putz, o chá esfriou.
              Não sei se ainda tenho pernas para fazer tudo que não fiz, até mesmo vontade de. Tem a vida me esperando lá fora. Mas não a quero. Tá confortável aqui embaixo das cobertas e tenho reservas intermináveis de chá. Levanto, espio pela janela e engulo o futuro com um nó na garganta. Agora o chá é de hortelã.
            Dia miserável. Tô chutando lixeiras, mentalmente. Palavrões a fio. Puta vontade de não recomeçar. Vou alugar os seus ouvidos, leitor. Já que o meu amigo imaginário morreu.


P.s:  Lendo "Leite Derramado", do Chico Buarque. Nada mais propício para quem ainda não terminou de transbordar.




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